Poderia ser um dia como qualquer outro, era pra ser entende? rotina.Mas algo dentro de mim explodiu a partir do momento em que acordei, meu coração aos pulos não parava de bater freneticamente e eu senti uma vontade louca de mudar alguma coisa, mudar alguém, talvez até me mudar. Então joguei meu pé direito para fora da cama e me sentei...fiquei assim por pelo menos 6 minutos ( podem acreditar ) , pensando no que fazer aquele dia.
Pus meu melhor vestido, prendi meu cabelo, e fui redescobrir esse belo mundo em que vivemos, mas quanto mais eu andava, mais parecia que eu estava caminhando sobre cacos de vidro, lágrimas brotavam de meus olhos e molhavam a ponta de meus pés, podia ver isso agora – já que estava a olhar pra eles - bonitos, mais cobertos de sangue.
Incrível, mais eu não me assustei nem um pouco, somente um leve baque, parecia uma dor antiga...tão antiga que já não sentia pois estava entorpecida, anestesiada. Continuei a caminhar e a minha frente uma multidão de pessoas se aproximavam correndo e pareciam ter muitos assuntos a tratar, gritando e sussurrando, algumas com o olhar afogueado, outras olhando para o relógio, a maioria sem reparar em nada, nem em mim – a moça que ia ser atropelada.
Dei alguns passos para trás e senti minhas pernas tremerem de pânico, cadê o filme da minha vida agora? Não era pra eu pensar em tudo que passei?.Me encolhi no exacto momento em que eles estavam prestes a passar por cima de mim - então senti frio, muito frio. Abri os olhos mas eles já estavam ás minhas costas, seguindo o seu caminho.Franzi meu cenho...ninguém me viu? Estou invisível para todo mundo? Sozinha? sim...eu estava sozinha.
Estive nesse purgatório toda minha vida, sobrevoando por sobre as montanhas sem ser vista.Recomecei a andar com a mente cheia de palavras, ideias e soluções quando de repente me vi no centro de um bosque com uma tulipa na mão. Olhei ao redor mais não vi ninguém, mais existia alguém naquele lugar, eu não era a única ali...podia sentir.
Um sentimento que eu nunca ousei experimentar antes tomou conta do meu ser, uma paz tão profunda que cheguei até a sorrir e rir a plenos pulmões, sem nenhum motivo aparente voltei minha vista ao chão e meus pés não estavam mais sangrando, eu tinha mudado.Larguei a tulipa na grama molhada e dei alguns passos para frente, com os olhos fechados e os braços estendidos. Desde criança tinha esse sonho: andar de olhos fechados e braços abertos sem cair, até que não final essa pessoa viria até mim. Foram exactamente 7 passos, e quando abri meus olhos lá estava ele: Os mesmos olhos castanhos profundos, os cabelos em desalinho e um sorriso como que me convidando, e eu fui, de algum modo eu o conhecia, confiava nele.
Acordei no hospital, uma sala abafada e com cheiro de remédio que eu sempre odiei. Desde quando eu estava ali?, como fui parar num centro médico?. Um senhor idoso de jaleco branco se aproximou de mim e disse: Bem-vinda de volta querida, você esteve em coma por 7 meses.”
Não! Como? Quando? eu...não lembro. Caminhando, dor, sangue...meu Deus! COMA??
Eu estava perdida, completamente perdida.
Meu coração apertou no meu peito, parecia que ia me faltar ar. Mas ele estava lá, o moço dos olhos castanhos. Mais tarde eu acabei descobrindo que foi ele quem me atropelou no meio fio naquele mês de Dezembro, eu andei e andei sem rumo quando tudo aconteceu. Permaneci imóvel por mais de seis meses mais nunca estive sozinha, Marcos estava comigo. Então ele segurou minha mão e fixou seu olhar no meu por pelo menos 6 minutos , creio eu. Lindo, simplesmente lindo para mim, meu anjo protector! O homem que quase me matou agora estava apaixonado por mim! Mandando tulipas toda semana e enchendo meu quarto de flores, conversando comigo e me sussurrando desculpas desesperadas.
“Nunca vou te deixar sozinha minha pequena sobrevivente, eu amo você.”
Consegui sussurrar um "eu te amo quase inaudível", mais foi o bastante para fazê-lo dar aquele sorriso incrível novamente.
Poderia ser um dia como qualquer outro... era pra ser entende? rotina.
